Lá fora, o
anoitecer não é tão escuro como de costume. A lua cheia ilumina as ruas de
forma estonteante. Com poucas nuvens no céu, parece que algo novo está para
acontecer. O caminho dos viajantes noturnos está sendo guiado pelas inúmeras estrelas.
Conforme as horas transcorrem, a noite se torna gélida e solitária. Rompendo o
silencio angustiante, uma música suave verbera pelo alto-falante do meu
aparelho de som. Composições
selecionadas com um critério simples: “o que me faz lembrar ela?”. Os mais
diversos estilos musicais; os mais diferentes ritmos sonoros; variadas letras e
vozes. A cada música que toca, lembro-me de algo que fiz com ela – um passeio,
uma viagem, uma conversa, um sorriso, um momento, um beijo, um abraço.
Deito no colchão
estendido no chão – eu tenho uma cama, mas esta quebrada. Lembro que
incontáveis vezes ela comentava que eu precisava comprar uma cama para nós. Com os joelhos flexionados e com os
pés apoiado no colchão, apoio o notebook na minha coxa. Começo a fazer buscas
pelos diversos arquivos e pastas do meu HD externo. Entro e saiu de diferentes
pastas. De repente, começa a tocar uma música do Nando Reis que gosto muito: por onde andei. A música me faz refletir
e cantar. Parece que a música é uma declaração
de amor e pedido de desculpas;
algumas palavras que sentia e precisava dizer para ela. Sua falta era mais do
que perceptível, mas por onde andei que só fui sentir isso depois de perdê-la?
Era uma pergunta que fazia em todos os momentos desde que tudo se tornou real.
Quando a
música acaba para poder começar outra, minha mente volta para o quarto onde meu
corpo se encontra. Deparo-me com algo que selecionei inconsciente – ou mais
consciente do que eu pudesse imaginar -, selecionei um álbum de fotos onde só
tinha fotos nossas. Eu sabia que ao olhar aquelas fotos a dor e a saudade só
iriam aumentar, mas o que seria mais algumas pontadas no coração? Quem sabe poderia se transformar em boas
lembranças.
Abri a
primeira foto, estamos numa quadra de futsal. Naquela época, éramos apenas bons
amigos. Mas de uma amizade sincera, auxiliadora e segura, surgiu um amor
verdadeiro – True Love – e único.
Forcei um pouco para não deixar exceder a tristeza. Passei para a próxima foto,
era uma imagem do dia dos namorados; dei para ela uma cesta com uns chocolates,
um macaquinho de pelúcia e um quadro
escrito LOVE, onde cada palavra era
uma foto nossa – esse foi o que ela mais gostou, e eu também. Na foto seguinte,
estávamos sentados num banco decorado no formato de uma casquinha de sorvete –
esta imagem serve como plano de fundo para meu notebook –, estávamos numa festa
no interior de São Paulo, tínhamos ido com um casal de amigos. Por incrível que
pareça, neste momento começou a tocar uma música que marcou esse passeio para nós. É curioso como existia várias
canções que marcaram nossos momentos, mesmo que tínhamos pouco tempo juntos,
existiam muitas músicas que compunham a nossa trilha sonora.
Depois de ver
todas as fotos, foi inevitável conter algumas lágrimas. Eu gostava – e ainda
gosto – muito daquela mulher. Ela me apoiou nos dias mais difíceis. As palavras
dela sempre trouxeram força para o meu corpo continuar. A motivação dela me deu
razão para conquistar cada vez mais. Os abraços dela me aqueceram nas noites
mais frias. Os beijos dela me saciaram de toda a sede de amor que eu tinha. O
corpo dela me deu os melhores momentos de prazer. O amor dele sempre foi algo
singular na minha vida. Os olhos e sorriso dela me presentearam com as maiores
belezas já testemunhas por mim. Como eu a amo.
Levemente, o
sono me toca com mãos de veludo. Desligo o notebook e o coloco em cima da cama.
Levanto suavemente enquanto seco as lágrimas com o dorso da mão. Direcionou
meus passos descuidados na direção do rádio, desligo-o. Giro nos calcanhares e
caminho até a minha cama improvisada. Deito novamente na imensidão do meu doce
e melancólico refugio de tristeza; muitas vezes aquele pequeno retângulo
acolchoado cuidou de nós dois, mas hoje não, não nesta noite. Ali seria apenas
mais um lugar onde eu poderia despejar minha magoa e falta dela. Tateio minha
mão no canto esquerdo, procuro o celular para ver as horas – esqueci-me de
olhar a hora quando estava com o notebook ligado –, inevitavelmente fico admirando
a foto do meu celular: estávamos juntos num jogo de futebol. Um dos grandes
momentos que passamos juntos no ano passado, compartilhamos a alegria de ver
nosso time do coração ser campeão de mais uma competição.
Apesar da
sonolência se tornar cada vez mais forte, dedico alguns minutos para uma
oração. Quando termino de conversar com
Deus, adentro um silencioso momento angustiante e triste. Fico me perguntando
se voltaremos a passar nossos momentos juntos. Será que conseguiremos superar
nossos medos, receios e magoas e tornaremos a ficar juntos. Que seja feita a vontade do tempo, aprendi
que o tempo é o dono da razão. Se for para ser, será. A minha única certeza é
que amo muito ela e não tenho nenhuma duvida disso.